Uma saúde doente!

Discriminante, excludente, a saúde exibe as mesmas distorções nos propósitos e benefícios que constatamos em várias outras áreas da tecnologia.


Dias atrás, a notícia de que um cardíaco terminal havia recebido, num transplante de coração, o órgão de um porco geneticamente modificado correu o mundo e acendeu uma chama de esperança para centenas de milhares de pessoas que aguardam apreensivas a vez de se afastarem da morte ou recuperar a normalidade das suas vidas. O evento representa o acesso da humanidade a um novo tempo de magníficas possibilidades. Principalmente porque, passadas mais de duas semanas, Dave Bennett continua vivo em um quadro estável. Muito justificadamente, as comemorações prosseguem. No entanto, longe da mídia especializada, dos tabloides e da tv, há muita gente por aí preocupada com o que esse avanço não resolve na questão da saúde e, sobretudo, da ética, afinal, a saúde é um aspecto fundamental da dignidade humana.

A medicina ao lado da indústria dos fármacos, vem sofrendo ao longo do tempo um processo de deformação de propósitos e práticas que não pode mais ser ignorado. Embora a questão da saúde já tenha, desde há muito, deixado seu enfoque no interesse público de lado, tanto o estado quanto a imprensa continuam trabalhando incansavelmente para minimizar o problema e relativizar seus escandalosos males. E qualquer interesse contrário é atropelado pelo seu enorme poder e influência, assim como seus opositores são esmagados por um rolo compressor que envolve lobbys, sedução e larga corrupção. A máfia de branco e a indústria das doenças fazem o que bem entendem e ninguém se opõe a eles. As discussões éticas, quanto a forma que essa nova tecnologia de transplantes será “democratizada”, e técnicas, quanto aos princípios envolvidos e a lisura dos propósitos na sua aplicação, devem sim nos colocar em alerta.

Ninguém poderá se dizer surpreso se, dentro de algum tempo, descobrir-se que a tecnologia foi desenvolvida com recursos públicos, testada em cobaias anônimas e destinada, exclusivamente, para aqueles que puderem pagar por ela. Formato, aliás, que já vem sendo usado há tempos – os inúmeros escândalos envolvendo a vacina contra o Covid (do desenvolvimento a comercialização) atestam, incontestavelmente, o quanto esta prática está disseminada e é aceita.

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