Empreender é o sonho de milhões. Mas, como evitar que esse sonho se torne um pesadelo impossível de se desenredar?
Independente das razões ou circunstâncias que nos levam a empreender, todo empreendimento é fruto de um processo muito parecido com a maternidade. A gente concebe, gesta e pari nossos negócios como se estivéssemos tendo um filho e, como tal, tendemos criá-los. No entanto (e ao contrário dos filhos reais) um negócio é incapaz de criar asas e construir sua autonomia. O fatídico resultado dessa dependência só é percebido no longo prazo. Não sendo aves, os negócios tendem a se tornar ardilosas aranhas cujas teias vão sendo tecidas ao redor do seu criador com previsíveis resultados. Infelizmente, essa armadilha é um destino natural para todo empresário que não percebe o risco determinado pelo prolongamento da sua permanência no centro de tudo, situação, infortunadamente, bastante comum. Os resultados disso são empresas verticalizadas, engessadas, burocráticas e apáticas. Mas a incapacidade de crescer e de se replicar, determinadas pelo do peso da mão do dono, resulta numa realidade quase que insuperável – negócios de baixo valor comercial e com poucas chances de fusões ou transferências. Muitos deles acabam mesmo desmoronando quando perdem seu decisor ou o controle que ele possui sobre tudo.
Características da empresa vítima da Armadilha do Dono:
- As coisas só acontecem com a mão do dono;
- Há uma dependência total até para as situações mais tolas ou corriqueiras;
- A receita não cresce, é inconsistente ou insustentável;
- O dono não tira férias, sequer pode se ausentar.
Como desarmar a Armadilha do Dono em uma empresa:
– DELEGANDO
A tomada de decisão precisa ser disseminada na empresa e isso começa com o desenvolvimento da liderança, liderança que exige visão sistêmica e capacidade de resposta. Estas propriedades são vocações que ninguém melhor que o dono pode transmitir à sua equipe. Neste processo, também provocando nela o senso crítico que fará disparar as mudanças e melhorias que desenvolverão o negócio e sedimentará a percepção de que as decisões devem ser compartilhas tanto quanto as responsabilidades.
– ENGAJANDO
O mais consistente fator de crescimento para uma empresa é o grau de engajamento daqueles que a compõem. No entanto, as pessoas precisam ser motivadas para se engajarem e se manterem engajadas. Entre outros importantes fatores, engajar significa dar aos colaboradores treinamento, recursos, responsabilidades e meios para que eles possam pensar com propriedade, decidir com responsabilidade e realizar com efetividade.
– ORGANIZANDO
Para que os funcionários tomem as decisões corretas, eles precisam atuar orientados por processos claros e procedimentos bem documentados. Tais regras proporcionam um ambiente de segurança e serenidade na empresa. Assim, as decisões vão se tornando cada vez mais confiantes e seus resultados assertivos até que a excelência passe a ser algo natural e espontâneo.
– INSPIRANDO
Pare de dar ordens. Faça sugestões ou aponte objetivos e peça sugestões, envolva as pessoas na trama das questões. Tente algo como “você pensou em algo a ser feito quanto a isso?” ou “o que você faria se estivesse no meu lugar?’ ou “o que você acha que devemos fazer” ou, ainda, “o que você acha da minha ideia?” (que pode ser um direcionamento de fato ou apenas uma provocação para a interação).
– QUEBRANDO A DEPENDÊNCIA
Dos funcionários e fornecedores aos clientes, todo mundo é importante. Mas se alguém além de você (ou sua empresa) for necessário, quem pode deixar de ser importante é você. Por isso, conduza sua empresa rumo a uma situação em que não seja excessivamente dependente de nenhum cliente, fornecedor ou funcionário. Identifique as peças de quem será importante reduzir o protagonismo e trabalhe para isso. Principalmente, considere como fazer isso para que eles, no mínimo, também tenham uma clara noção de perda caso decidam ir embora. Pode parecer bobo, mas, essencialmente, as empresas estão muito mais seguras quando fazem algo de bom para muitos do que quando fazem muitas coisas boas para poucos.
Como se manter a salvo da Armadilha do Dono
Há momentos ou situações que cabem apenas ao dono do negócio. Todo começo, grandes passos e mudanças decisivas estão entre elas. Mas, fora disso, se você estiver desempenhando funções do dia a dia em seu negócio, você não está fazendo seu trabalho real, que é encontrar novas maneiras de desenvolver e melhorar seu negócio. Quem trabalha, não tem tempo para ganhar dinheiro e nem para garimpar oportunidades. Esse é o real papel daquele que está no topo.
Ao ser capaz de identificar quando sua empresa está se tornando excessivamente dependente de você e conhecer as etapas a serem seguidas para escapar da armadilha do proprietário, você pode romper o teto e abrir espaço para trabalhar naquilo que é mais importante para todo negócio – decidir seu futuro.