O telescópio James Webb, fruto de 30 anos de trabalho da humanidade, nos abre uma nova janela para o infinito.
Era Natal. O dia amanhecia na Base Aeroespacial de Korou na Guiana Francesa quando um gigantesco estrondo fez tremer a terra. Em meio uma explosão ribombante, o foguete francês Ariane 5 se ergueu do solo e partiu acelerando alucinadamente rumo a um ponto no espaço distante a um milhão e seiscentos mil quilômetros da Terra. Em seu interior, o Ariane levava o mais ambicioso projeto humano já criado para sondar o espaço e estabelecer novas fronteiras para os nossos conhecimentos sobre a origem do universo – o Telescópio James Webb (militar e proeminente diretor da NASA no início da corrida espacial). O Ariane levava o James Webb para um ponto no espaço onde a gravidade da Terra, da Lua e do Sol se anulam o que lhe permitiria uma órbita estacionária perfeita para a realização da gigantesca tarefa que lhe cabia. Voando a 25.000 km/h, o Ariane chegou ao seu destino pouco mais de um mês após a partida. Desde então, os técnicos o colocaram em órbita, ativaram os filtros de luz e radiação que protegeriam seus delicados instrumentos, abriram seus painéis solares para a alimentação de energia e os espelhos refletores do conjunto ótico para o posicionamento correto. Tudo isso, enquanto aguardavam seu lento resfriamento até os 233 graus célsius negativos necessários para o início do seu perfeito funcionamento.
Embora ele tenha sido lançado no final do ano passado, os trabalhos para sua construção tiveram início poucos dias antes do lançamento do Hubble em 24/04/1990 tendo seu custo alcançou polêmicos 10 bilhões de dólares. Mas o James Webb é resultado de mais de 30 anos de trabalho da Agência Espacial estadunidense (e das agências europeia e canadense na sua fase final). Seu antecessor, o Huble, foi projetado para enxergar a radiação ultravioleta enquanto o Webb irá observar a radiação infravermelha. Graças aos avanços da tecnologia alcançada entre o lançamento de ambos, o Webb é 100 vezes mais sensível do que o Hubble e poderá, portanto, “enxergar” muito mais longe.
Para entender como os telescópios funcionam é preciso entender como nós humanos enxergamos. Nossa visão depende de um fenômeno físico chamado radiação que é fruto da movimentação de partículas elétricas, Estas partículas são projetadas por corpos celestes ou por artefatos como as lâmpadas e possuem a propriedade de carregar informações dos objetos onde tocam e ricocheteiam. É por isso que nós enxergamos – o Sol emite partículas que atravessam o espaço, se chocam com as coisas e são refletidas. Quando olhamos para estas coisas, as partículas de luz refletidas por ele penetram nossos olhos e depositam no nosso cérebro as informações que retiraram do objeto para o qual estamos olhando nos permitindo vê-los. No entanto, o nosso olhar é capaz de interpretar apenas parte das informações que estas partículas carregam. Os telescópios (e alguns animais também) obtêm uma série de informações que nossos olhas não enxergam, São estas as informações que nós não enxergamos que interessam à ciência.
Através das partículas de luz que recebem, os telescópios identificam a distância do corpo emissor e observam o que estava acontecendo com aquele(s) corpo(s) no momento quando suas partículas foram disparadas. Algo parecido com a experiencia que temos quando assistimos um filme antigo. Captando partículas de diversas épocas, eles conseguem observar os mais diversos eventos e fenômenos espaciais obtendo precisas informações sobre os mais variados aspectos científicos. Mas o que eles almejam sobretudo é obter partículas que contenham informações sobre os primórdios da criação do universo para esclarecer os cada vez menos obscuros mistérios que o provocaram.
Além da própria NASA o James Webb será utilizado como ferramenta de pesquisa por mais de 300 universidades do Planeta em quase duas dezenas de países. A tecnologia que ele possui embarcada somada ao seu privilegiado posicionamento de observação, permitirão que ele nos mostre o espaço de formas nunca antes vistas além de vir a nos proporcionar assombrosas revelações por muitos anos.