Nos tornamos um risco para a natureza, mas não seremos seu fim. É hora de assumirmos nossa responsabilidade pelo futuro.
Finalizando esta série sobre o recente Sumário do Grupo de Trabalho I (primeiro dos três que integram o IPCC e que trata dos efeitos nocivos da mudança climática provocada pelo homem), veremos hoje como o Brasil se insere nesta problemática e quais os prováveis desdobramentos que ela nos trará.
O Brasil sempre foi protagonista na discussão global sobre natureza, biodiversidade e clima. Destacadamente privilegiado em todos estes aspectos, representava para o mundo mais do que um precioso ativo ambiental. Era também referência no manejo sustentável de recursos naturais e líder proeminente na questão ecológica. Por tudo isto, teríamos garantido estímulo e investimento internacional para um desenvolvimento limpo e sustentável, dividendos pela crucial estabilidade do clima global além da posição de locomotiva do ecodesenvolvimento mundial. Mas, todos bem sabemos, as nossas preferencias são bem outras. Hoje, por opção, abdicamos da posição de referência mundial e somos pária ambiental, nossas florestas ardem, nossos reservatórios secam e a fome se alastra por aquele que deveria ser o celeiro do mundo.
As consequências disto também estão no sumário antecipado pelo IPCC. Ele enfatiza que toda a região central da América do Sul, destacando-se a região amazônica no centro-oeste brasileiro, sofrerão aumentos de temperatura média até duas vezes maiores do que a taxa de aquecimento prevista para o restante do planeta. Assombrosamente, a contribuição do país para o seu próprio aquecimento é voluntária e decidida – derrubamos nossa maior floresta (que absorve gases de efeito estufa em escala global) e disseminamos uma pecuária extensiva descontrolada (que produz colossais volumes destes mesmos gases). São muitos os catastróficos resultados desta desastrosa atuação, mas nenhum se compara ao seu tenebroso impacto sobre a amplitude do sistema pluviométrico amazônico – a cada ano, veremos uma progressiva diminuição do volume das chuvas e das águas dos nossos reservatórios. E, ainda alerta o estudo, a floresta pode estar próxima da incapacidade de gerar a chuva necessária para a sua própria subsistência.
Muito em breve, o desequilíbrio em curso também deverá alcançar a agricultura e a pecuária comprometendo a estrutura produtiva dos dois principais fatores do PIB brasileiro. Mas, um efeito visível desta redução pluviométrica já sentimos claramente hoje com os racionamentos de água e energia que o país vive comprometendo as atividades produtivas, comerciais, a qualidade da vida e as condições de desenvolvimento da população. A água também está ligada ao maior problema da Infraestrutura nacional; nossa Matriz Energética é predominantemente hídrica e não admite ser substituída pelo combustível fóssil nacional que é de péssima qualidade e extremamente poluente. Nem por isso se percebe no estado ou na iniciativa privada disposição para uma decidia expansão das matrizes energéticas sustentáveis tão favorecidas pela terra e que significariam tranquilidade para o mercado e estímulo para investimentos. Por tudo isso, crescem no mundo pressões por sanções econômicas e políticas em resposta a absurda condução que o país tem dado à questão ambiental. O fato é que, neste início de século, mais de metade da população brasileira já se viu afetada por eventos climáticos extremos. Segundo o Atlas Brasileiro dos Desastres Naturais, só na década passada o número destes eventos cresceu inacreditáveis 40%. Não há dúvida de que este quadro se agravará pesadamente ao longo dos próximos anos. Assim prossegue o sumario do IPCC com muitas evidências mais e sinistros alertas.
Certos de que ninguém pode mais se esquivar desta questão, cabe a todos e cada um escolher sua bandeira e abraçar essa luta pelo Brasil, pela natureza e pela vida.