Caixa Preta

A Inteligência Artificial significa para a humanidade um futuro de magnificas possibilidades. Desde que a protejamos dos que pensam diferente.


Desde os primórdios da computação o homem sonha com um computador que seja capaz de pensar. No princípio, eles apenas calculavam. Depois, eles passaram a também raciocinar quando a lógica foi incorporada aos programas que utilizavam. Mas o pensar sempre foi algo desafiador – pensar é alcançar novos conhecimentos (aprender) elaborando (inferindo) os conhecimentos que já se possui. Essa sonho começou a se transformar em realidade quando seus processadores passam a abrigar várias unidades processadoras (núcleos) e a tecnologia permitiu que eles pudessem ser agrupados (em clusters) para trabalhar como se fossem um único sistema de processamento. São estas conquistas que fazem de nós as privilegiadas testemunhas do nascimento da Inteligência Artificial. Esta é a nova fronteira da computação com a qual já estamos convivendo através dos assistentes de voz dos celulares (Ok Google!), dos fantásticos assistentes de voz domésticos (Alexa, a Siri e a Nest) e do já disseminado atendimento automatizado presente nos Contact Centers das grandes empresas.

No entanto, há quem tenha reservas quanto à estas novidades. Aliás, o temor de que se dar capacidade de raciocínio às máquinas representa um risco para a humanidade existe entre nós desde há muito. Tema antigo da ficção científica literária e cinematográfica, hoje vemos este risco alardeado por muita gente que, para além da teoria da conspiração, aponta seus riscos e até elenca evidências. Realmente, será que devemos ignorar o modo estranho que algumas tecnologias inteligentes estão nos sendo empurradas como se seu uso estivesse comprovadamente seguro para o nosso uso? Os questionamentos vêm até de especialistas da área que não reconhecem essa confiabilidade afirmada pelos fabricantes.

Vejamos, então, algumas inovações que ainda estão cercadas de incógnitas e ceticismo:

Assistentes para o sono
De roupa de cama inteligente a travesseiros de alta tecnologia, monitores de sono, estimuladores sensoriais etc., uma infinidade de coisas, utilizando uma tecnologia ainda em amadurecimento, já estão nas prateleiras para o nosso consumo. Mas será que elas já estão maduras a ponto de as utilizarmos sem temores justamente quando nos encontramos indefesamente mergulhados no sono? É claro que se estas inovações visassem as necessidades daquelas pessoas que possuem disfunções, distúrbios ou enfermidades, o objetivo as justificaria em muitos casos. Mas não parece ser esse o foco!

Simuladores de sensações
Calma, não se anime ainda. Por enquanto, essa tecnologia é restrita ao mundo dos games. Alguns desenvolvedores já estão oferecendo acessórios impressionantes como os trajes vestíveis Teslasuit que são capazes de gerar sensações físicas bastante realistas. Agora, imagine o tamanho do mercado para “outras aplicações” desta tecnologia – elas são tantas que vão do excitante ao sinistro, no mínimo.

Veículos autônomos
Esta é uma aplicação bastante polemica e não é para menos. Todos sabemos que a direção de um veículo não é uma tarefa de baixo risco. Dirigir exige experiência, envolve os sentidos e, nos momentos críticos, reflexos e até a instinto. Isto porque, muitas vezes, dirigir é uma verdadeira loteria. Todos sabemos que acidentes aconteçam a todo momento, mas alguém conhece algum caso de acidente que tenha ocorrido de forma deliberada, intencional? Acidentes acontecem porque acidentes acontecem. No entanto, em muitos dos casos, a gente observa incrédulo que consequências terríveis são milagrosamente evitadas por razões inexplicáveis. Mas, em um carro autônomo que é desprovido da bagagem e das subjetivas possibilidades de um motorista, basta uma falha em um sensor para nos depararmos inexoravelmente com a fatalidade. E isso já tem acontecido (embora tais acontecimentos continuem sendo diligentemente empurrados para debaixo do tapete).

Implantes de chip
As restrições ao uso de chips vão daqueles que temem a possível “rastreabilidade irrestrita” aos que lhes atribuem significados sobrenaturais como a “marca da besta”. Mas, trazendo a discussão para um plano bem mais razoável, não deixa de ser surpreendente que uma pesquisa realizada nos EUA, Europa e Ásia pelo renomado Centro de Estudos Pew Research Center (que estuda a influência que a tecnologia exerce sobre a realidade das pessoas e suas expectativas quanto ao futuro) constatou que os chips de computador injetáveis eram de longe a maior preocupação para os entrevistados dentro de uma enorme lista de possíveis ameaças associadas à Inteligência Artificial.

Tecnologia para a guerra
Objetivamente, a IA dá a algumas pessoas a capacidade de fazer coisas ruins a outras pessoas. Em um teste recente, um programa de IA conseguiu sugerir nada menos que 40.000 tipos de ataques com armas químicas para diferentes cenários de guerra. Embora se estime que autonomamente a IA ainda não seja capaz de perpetrar tal atrocidade, já está claro que ela é capaz de orientar nefastamente a quem deseje realizá-las. Neste confronto entre a Rússia e a Ucrânia, por exemplo, drones inteligentes se tornaram estratégicos para ataques cirúrgicos contra alvos pré-determinados. Mas, em suas incursões, também foram capazes de indicar possíveis novos alvos chegando mesmo a decidir atacar em alguns casos.

Máquinas de grande porte
A agricultura, a mecânica pesada e as grandes empreiteiras e construtoras estão de olho nas vantagens de poder contar com uma força de trabalho não dependente de humanos. Mas são muitos os defendem que as grandes máquinas precisam ser controladas por humanos e não por algum algoritmos de computador. Imagine o tamanho do problema que um rolo compressor ou uma ponte rolante descontrolada poderia significar para a integridade dos humanos nos ambientes onde atuam.

É comum o argumento de que as atuais aplicações da IA ​​estão concentradas nos algoritmos dos sistemas, por isso não representam nenhum risco para as pessoas. Mas, será isso mesmo? Quem pode nos garantir que não existem propósitos não declarados embutidos na inteligência dos sistemas de vigilância urbanos ou mesmo nos assistentes dos nossos smartphones? A impressão que se tem é de que o que de assustador existe na ficção cientifica caminha em nossa direção simplesmente porque nós não estamos nem um pouco atentos a isso. Talvez todos devêssemos reavaliar os rumos deste cenário com a devida seriedade. Isto, caso de fato contemos com um futuro em que a IA seja inequivocamente útil, segura e transparente. Ao questionar a razão destas caixas pretas estarem sendo indiscriminadamente nos oferecidas, estaremos preservando a possibilidade de uma presença humano integra e segura nos futuros planos da IA.

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