Para representar uma real evolução, a tecnologia exige ser adotada com cuidado e critério, avaliação dos riscos, monitoramento e controle.
Com enorme repercussão, as Lojas Americanas, o Shoptime e o Submarino se juntaram às Lojas Renner, Porto Seguro Seguros e CVC no rol das recentes vítimas do cibercrime. Nenhuma, entretanto, causando a apreensão alcançada pelo ataque desferido contra o Ministério da Saúde quando a apreensão tomou conta do país que ficou semanas sem saber ao certo se veria recuperada a base de dados da saúde pública nacional e todo o histórico da securidade previdenciária trabalhista. Essa passou perto!
Por mais preocupantes que sejam, estes eventos são apenas mais um capítulo de uma tragédia bem maior – a permanente insegurança digital global. Por várias vezes este tema já foi tratado aqui por diferentes ângulos. Desta vez, aproveitando o calor do momento, vamos observar a questão por um novo plano – quais brechas as próprias empresas já tardam em obstruir no enfrentamento que realizam contra o risco digital. Começaremos hoje ilustrando o quanto os equívocos existentes no modelo de adoção da tecnologia praticado pela maioria das empresas impedem que suas estruturas de segurança se fortaleçam e a cultura digital amadureça. Quarta e sexta próximas, observaremos como alguns ajustes em aspectos comportamentais básicos das pessoas pode qualificar o enfrentamento ao risco corporativo. Em frente.
A tecnologia nos seduz de tal forma, que acabamos adotando uma postura relativista quanto aos seus efeitos sobre nós e sobre o mundo que nos cerca. Desprezamos uma realidade que é fruto do nosso descuido e inconsequência quando incluímos o novo em nossas vidas e exploramos a mudança que ele provoca. No mundo dos negócios, onde a tecnologia entusiasma sobremaneira, esta situação é mais grave ainda. É claro que o que todos esperamos é a tecnologia venha para tornar nossas empresas mais organizadas, eficientes e produtivas. Mas o que se percebe é um crescimento assustador de um modelo de aquisição mal calculado e arriscado. Um modelo onde, muitas vezes, as decisões quanto a tecnologia são baseadas no achismo, nas impressões, no desejo de possuir ou de, meramente, imitar. Quase sempre, sem determinar razões, avaliar riscos, fundamentar escolhas, estabelecer propósitos, planejar a mudança, gerenciar sua implantação, monitorar seu uso e medir seus resultados. Assim, a tecnologia acaba entrando em muitas empresas como um trem desgovernando, agravando os problemas e adicionando mais uma camada de resistência à já natural dificuldade que é o desafiante processo de aquisição da inovação representa para as empresas. Já passou da hora das empresas se atentarem para o fato de que toda mudança precisa ser apoiada por um processo sólido e realista. Também é fundamental calcular os riscos, determinar muito bem se há alguma possibilidade da mudança se transformar em algo prejudicial para a empresa. O inaceitável, é que estas questões não teriam nem porque ser problemas para as empresas, afinal estão relacionadas a princípios básicos da gestão corporativa e são importantes, justamente, para nos ajudar a qualificar decisões e ampliar as chances de sucesso do resultado delas.
Se fizermos um recorte da abordagem correta, encontraremos na sua raiz uma tomada de decisão qualificada (razões concretas e objetivos claros), no estágio intermediário, encontraremos um apoio técnico hábil e uma avaliação de risco realista e, na fase final, um trabalho sólido para a assimilação da mudança e readaptação da cultura. Embora esta lista possa ser substancialmente ampliada, apenas com a devida atenção a estes princípios básicos, cujo enfrentamento não é nenhum enigma, já podemos obter um retorno fantástico para os esforços que realizamos nos negócios. Não se pode questionar o propósito da tecnologia é nos proporcionar melhoria e evolução. No entanto, se não nos prepararmos adequadamente para isto, é inevitável que a sua adesão se ocasione distorções capazes de reduzir gradativamente a capacidade das pessoas, dos países e do mundo responder positivamente às mudanças ou pior, ela pode agravar o stress organizacional que leva a ruptura operacional e à fadiga gerencial. Exatamente igual ao que vemos ao redor do planeta neste exato instante.