O primeiro grande legado do Covid para a humanidade será nos reensinar a ser pacientemente resilientes. Portanto, respire e continue.
Quase um ano após o registro do primeiro caso de contágio na China, a humanidade ainda não sabe o que fazer com tanta novidade. O atordoamento atinge todo o espectro da sociedade, de ponta a ponta nela se percebe que as pessoas não conseguem lidar com algo que lhes tira tão fortemente o chão. Embora se perceba no ar um anseio quase desesperado para que tudo volte ao que era antes, já não restam dúvidas de que o processo será lento e que ignorar não irá acelerá-lo
Acelerado, aliás, tem sido nosso modo padrão há muito tempo. Nos condicionamos a ver o mundo ser destruído e patrioticamente salvo em duas horas (no máximo) no conforto da poltrona do cinema da tv. Acreditamos não existir tragédia quie não tenha solução rápida e com hora para acabar. Por isso nós negamos a ouvir os especialistas que esclarecem sobre a gravidade da situação e ausência de horizontes até que se tenha prevenção e tratamento seguramente comprovados. Nos apegamos a miragens e canastrices de lunáticos e farsantes enquanto a vida agoniza estridentemente a nossa volta .
Essa nossa grotesca falta de jeito para lidar com problemas de monta revela o quanto estamos descolados da realidade que nos cerca. De todos os campos da experiência humana, somente um grande prêmio da loteria talvez possa ser considerado como um processo de resposta naturalmente imediata. Todo resto, a vida, as grandes descobertas, as invenções e mudanças, foram fruto de árduo trabalho e envolvimento de gerações inteiras de notáveis formiguinhas, muitos delas absolutamente anônimas. Estamos tão acostumados à pequenez da nossa visão e entendimento, que nem percebemos as grandes descobertas que estão acontecendo agora em decorrência deste momento que nos assola. São peças soltas de um quebra-cabeças confuso, mas que em algum momento desembocarão em mais um salto para a humanidade. Por isso, devemos muito refletir sobre a possibilidade de nos ajudar e colaborar fazendo o modesto papel que nos foi atribuído neste momento de terror. Sempre em paciente colaboração com os esforços daqueles que ainda estão se matando para nos resgatar a plenitude da vida e com profundo respeito pelos tantos que já as deram para garantir a continuidade das nossas.