Nos últimos tempos temos visto uma transição cada vez mais significativa entre estes dois conceitos. Mas, onde isso nos afeta?
Quem está assistindo aos jogos da Eurocopa certamente tem se deliciado com um futebol eletrizante. São partidas majestosas que mesclam um balé artístico com o mais cerebral xadrez. Aos poucos, vai ficando claro que a tão celebrada técnica está perdendo espaço para a tática que está tornando competitivo o futebol disciplinado de seleções sem qualquer tradição ou estrelas. Situação que não deveria nos surpreender após 2014, mesmo que o nosso futebol ainda aparente não estar muito convencido disso.
Os dias de glória do solitário talento já se vão. Hoje vemos que a organização e o conjunto desenvolveram meios para resultar muito mais, com menor esforço e, principalmente, com controle do risco (veja no que deu o Brasil não contar com Neymar contra a Alemanha). Outro “frango” da técnica observado naquela partida foi a nossa incapacidade de lidar com a realidade da situação. A orientação tática nos conduz ao exercício da disciplina, da visão sistêmica, do espírito de grupo e da tomada de decisão qualificada – tudo o que nem de longe apresentamos naquela fatídica partida e que poderia limitar a nossa humilhação a uma simples derrota. O que tudo isso quer dizer é que a tática nos prepara para resolver problemas ao invés de apenas enfrentá-los e isso faz uma gigantesca diferença para os nossos resultados.
Mas, isso não quer dizer que a técnica esteja superada, muito pelo contrário, aliás. A técnica sempre será o diferencial desejado, mas ela já não é mais suficiente para conter a tática. Quando disponível, ela é um trunfo que a tática utilizará dentro do seu arsenal de opções, e só. Por último, é importante destacar que todo trabalho tático tem um pano de fundo técnico. A aplicação da tática exige preparo, disciplina e espírito de equipe. E, mais importante ainda, o sucesso da tática depende de um trabalho orquestrado, sincronizado de uma ponta a outra da equipe o que requisita, além da primária habilidade, capacidade intelectual e treinamento intensivo. São desafios cujas dificuldades se acentuam em culturas despreparadas como a nossa. No entanto, demos graças pelos 7X1, farol a nos lembrar que os tempos hoje são outros e de que, enquanto não houver mudanças, não faltarão oportunidade para novos vexames – as manchetes nos nossos jornais atestam a isso.